“Concedei-nos Senhor,
Serenidade necessária, para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos e Sabedoria para distinguirmos umas
das outras.”
Oração da Serenidade
A
Oração da Serenidade foi escrita pelo teólogo protestante Reinhold Niebuhr que
viveu de 1892 até 1971 e trabalhava no Union Theological Seminary, nos Estados
Unidos da América.
É
utilizada por grupos de ajuda mútua, tais como Alcoólicos Anônimos e Neuróticos
Anônimos, representando uma síntese dos esforços que devemos desenvolver para
vencermos a nós próprios e aprendermos a exercer nossa vontade.
Em sua
parte básica, mais conhecida popularmente a oração diz assim:
“Concede-me,
Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar,
coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma das
outras”.
Nessa
oração podemos destacar quatro virtudes ou comportamentos básicos essenciais
para a aquisição do equilíbrio e da harmonia com o mundo em que vivemos:
serenidade, aceitação, coragem e sabedoria.
Serenidade
significa paz. No Evangelho de João, capítulo 15, versículo 27 Jesus nos deixou
sua paz dizendo:
“Deixo-vos
a paz, a minha paz vos dou, não vo-la dou como o mundo dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize”.
Diante
de sua realidade, o homem pode buscar duas situações: satisfazer suas
necessidades considerando como valor as coisas do mundo material, ou colocando
seu ponto de vista nos valores do espírito. Podemos então escolher entre buscar
a paz do mundo ou construir a paz do Espírito, ou a paz que o Cristo nos
deixou.
Ilude-se
aquele que busca a paz pela aquisição das coisas materiais: apego, posse,
poder, riqueza, prazer, sucesso... As coisas do mundo não estão nunca estiveram
nem estarão sob o nosso controle. No mundo vive-se a ilusão do ganho e da
perda, existe a necessidade de competir para sobreviver, as dores impõem
sofrimentos, desequilíbrio e depressão. A felicidade consiste em breves
momentos de trégua em que aparentemente nossos problemas estão resolvidos.
Vive-se em contínua preocupação e medo pelo dia de amanhã. No mundo tudo passa.
Conta
uma lenda que um rei desejando saber qual era a receita da felicidade mandou
chamar um sábio que lhe deu um livro com apenas duas páginas, dizendo:
- Neste
livro está inserida toda a receita para a felicidade e o resumo de toda a
sabedoria. Quando estiveres aflito, desesperado, pressionado pelo mundo, não
encontrando o caminho a ser percorrido abre este livro e leia a primeira página
apenas. Assim também, quando estiveres sentindo a necessidade de compartilhar
sua alegria e felicidade com o mundo, em função de seus sucessos, abre o livro
e lê a segunda página.
Assim
foi feito. Certa ocasião, o rei encontrava-se encurralado em batalha com o país
vizinho, prestes a perder tudo o que tinha, colocando em risco a sorte de seu
povo. Não sabendo o que fazer, lembrou-se do sábio, pegou o livro e leu a
primeira página. Lá estava escrito: "Isto passa!"
Enchendo-se
de esperança, o rei conseguiu recuperar-se de seu estado depressivo, trabalhou
com afinco, deu a volta por cima da adversidade e conseguiu superar a situação,
voltando a trazer harmonia para seu povo.
Quando
estava feliz por ter conseguido vencer e resgatar a prosperidade de seu povo,
desejando compartilhar sua alegria com todos à sua volta, lembrou-se do sábio,
pegou o livro e leu a segunda página. Lá estava escrito: "Isto também vai
passar!"
Assim
também são as coisas do mundo, não estão sob o controle ou domínio dos homens.
Tristeza, felicidade, sucesso, fracasso, alegria, tudo passa, tudo se modifica.
Aquele,
entretanto, que coloca seu ponto de vista nos valores espirituais, adquire a
paz que o Cristo nos deixou. Isto porque, do ponto de vista espiritual não
existem problemas, mas oportunidades de aprendizado e conquista. As coisas do
Espírito estão sob o controle de cada um, sendo a vida um conjunto de lições a
serem aprendidas As dores são conseqüências naturais de nossas escolhas atuais
e pretéritas. Construímos hoje nosso dia de amanhã. A justiça Divina está
presente em todas as coisas, sendo, pois, a resignação a postura mais
recomendada. A luta do homem é para vencer a si próprio, domando suas más
inclinações e suas tendências inferiores. Não existem perdas, pois como o
Espírito não regride, se ganha sempre.
Ao nos
deixar sua paz Jesus nos aconselhou: "Não
vos ponhais inquietos pelo dia de amanhã. A cada dia basta o seu mal"(Mateus:
6-34).
A paz
espiritual não significa a ausência de problemas ou de obstáculos, mas o
reconhecimento de que esses são nossas oportunidades de aprendizado e de
iluminação interior. Nesse sentido, a Oração da Serenidade nos apresenta a
receita para a felicidade relativa, pois aponta o caminho da paz do Espírito ou
da paz do Cristo.
Diante
das adversidades, encontramos três tipos de situação: 1) aquelas que não estão sob nosso controle e, portanto, não podem ser
mudadas pelas nossas ações; 2) aquelas que estão sob nosso controle e só
dependem de nós para serem mudadas; 3) e aquelas que, embora não possamos
modificar diretamente, podemos tentar influenciar na mudança.
Do
ponto de vista individual o Espírito deve passar por provas e expiações. Nas
provas podemos escolher os caminhos, embora não consigamos nos afastar daquilo
que nos está determinado experimentar. Nas expiações, nada podemos fazer, a não
ser aceitar o que nos é dado viver. Do ponto de vista coletivo, tudo que é do
mundo não depende só de nós e, portanto, ocorrem situações que não podemos
mudar. Podemos, entretanto, agir de forma a modificar, por influência,
comportamentos, leis e posturas coletivas.
Tudo
começa, pois, pela aceitação de si mesmo, pelo conhecimento de si próprio, pela
luta para vencer a ilusão do orgulho, a vaidade, o egoísmo, o apego e pela
decisão de caminhar vivendo as experiências do mundo com sabedoria. A
felicidade não é um ponto de chegada, não é um momento fugaz, mas a
oportunidade de percorrer o caminho continuamente. Cada instante da vida é,
pois um momento de felicidade quando trazemos a paz no Espírito. Nosso mundo é
ainda de amor condicional, daí ser a felicidade, aos olhos dos homens, uma
coisa passageira.
A paz
do mundo é tida como ausência de guerra, ausência de conflitos, mas pelos olhos
do mundo vivemos todos com medo. Medo de ser rejeitado, de não ser reconhecido,
de errar, de fracassar, de ficar doente, de perder coisas e bens materiais, de
perder pessoas amadas, de perder o emprego, de passar por dificuldades
financeiras de perder a vida. O sentimento de perda é uma realidade.
Jesus,
no entanto, nos deixou a paz, não como o mundo dá, recomendando que não
deixássemos turbar o coração nem agasalhássemos o temor em nossas vidas.
Todavia, a aceitação das coisas que não podemos mudar não pode ser entendida como
um convite para a inércia, pois nosso Espírito está em contínua construção,
requerendo as experiências do caminho para a aquisição da felicidade. A vida
nos ensina. Vivendo aprendemos a distinguir, sem lamentações, as situações que
enfrentamos. Compete-nos a aceitação serena, mas também a ação regeneradora.
Em sua
segunda parte, menos conhecida, a Oração da Serenidade nos aponta o caminho,
nos aconselha o comportamento para melhor enfrentarmos as situações da vida.
Como atingir a serenidade para aceitar, a coragem para agir e a sabedoria para
discernir. A oração como um todo nos diz assim:
“Concede-me, Senhor, a serenidade necessária
para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que
eu posso e sabedoria para distinguir uma da outra – vivendo um dia de cada vez,
desfrutando um momento de cada vez, aceitando as dificuldades como um caminho
para alcançar a paz, considerando o mundo pecador como ele é, e não como
gostaria que ele fosse, confiando em Deus para endireitar todas as coisas para
que eu possa ser moderadamente feliz nesta vida e sumamente feliz contigo na
eternidade”.